Comida nos faz cometer certas loucuras. Esta semana foi minha vez. Saí do trabalho rumo à rodoviária e peguei um ônibus para Campos onde mora meu irmão. Até aí tudo bem, mas as chuvas que causaram o caos no Rio na terça fizeram com que a viagem que normalmente dura quatro horas acabasse durando sete, sendo que o busão ficou parado pouco mais de duas horas no mesmo lugar. Desesperador, mas a recompensa seria boa: uma noite de belos vinhos coroada com a paleta de javali assada pelo Doutor e chef André.

As lascas da paleta de javali perfeitamente assada e coroada com o saboroso molho que ganhou toques de pimenta dedo de moça…
O médico provou ser especialista também na cozinha. E misterioso também. Fui com a intenção de acompanhar o processo todo de preparação do javali, mas o chef André não abriu o jogo. Só que sou persistente e arranquei alguns detalhes que vou passar por aqui. A intenção agora é fazer na minha casa e aí sim ensinar todo o passo a passo. Enquanto não faço, vamos ver o que conseguimos arrancar.
De gosto mais forte do que a carne de porco convencional, o javali pede uma marinada. Estavam lá alho-poró, alecrim, tomilho, cebolas, cenouras, bastante alho, sal, pimenta do reino, salsinha, salsão e duas taças de vinho tinto. A paleta pesava cerca de 2,5 quilos. Coloque os legumes picados grosseiramente em um tabuleiro junto com o vinho e deixe na geladeira de um dia para o outro. Falam em 24 horas. Acho demais. A marinada e os legumes é que vão formar o molho depois.
Hora de ir para o forno em uma assadeira bem vedada com papel alumínio. Temperatura bem baixa, cerca de 160 graus. No mínimo três horas lá dentro. Não se pode ter pressa nesse preparo. A carne precisa soltar do osso. Chef André chegou com ela pré-assada durante estas três horas. Ela foi finalizada em forno alto, sem o alumínio por mais 40 minutos, mais ou menos.

Após o forno baixo, finalize em forno alto sem alumínio para deixar a casquinha crocante e caramelizada..
Vamos ao molho. Após assar a paleta, leve ao fogo a assadeira com os legumes e jogue vinho tinto, caldo de legumes, pimenta dedo de moça e uma colherzinha de farinha de trigo para ajudar a engrossar. Deixe reduzir e passe tudo por uma peneira pressionando bem os legumes cozidos para que o sabor fique marcante. A essência é essa.
O acompanhamento do dia foi uma farofa bem completa. Mas cabe perfeitamente com um couscous marroquino simples ou com batatas assadas.

Antes de ser fatiada, a paleta na mesa com o molho servido separadamente e a farofa ao fundo… Delícia!
Tudo foi corado com uma bela seleção de vinhos. Passamos por Argentina, Chile, Estados Unidos e África do Sul. De todos, destaque para o blend Del Fin Del Mundo Gran Reserva 2006, o Hartenberg Cabernet Sauvignon/Shiraz 2005 e o frutado americano Chateau Ste Michelle Syrah 2009. Vinhos com personalidade e corpo para acompanhar a carne saborosa com molho de personalidade.
No fim, o sorriso estava estampado no rosto de todo mundo. Afinal de contas, não dá para não ficar feliz após um belo jantar e muito vinho. O sono dos justos veio no ônibus coroando a loucura direto do jantar. Às 3h começava a viagem de volta. Desta vez sem trânsito e com cansaço acumulado.

Depois de seis garrafas e muita comida, rolou até fanfarronice. No cenro, de blusa clara, o Chef André..
Espero que tenha dado para ter uma ideia de como fazer. Se não, a culpa é todinha do médico e chef André, que escondeu em sua cozinha de Campos os segredos dos leitores do Gastronomia por Esporte. Mas espero ter conseguido guiá-los e, como disse, prometo fazer minha versão em casa ainda este ano para colocar aqui. E, desta vez, sem longas e cansativas viagens de ônibus. Abraços e até a próxima!
Rafael mais uma vez tenho que bater palmas para o Chef André. Sou a maior fã das suas descobertas culinárias!! A sequencia de vinhos estava perfeita e a companhia melhor ainda!! Temos que repetir a pedida!! Abraços até a próxima e parabéns pelo Blog. Adorei!